segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ladrão que rouba a ladrão…

Vejam esta not(velh)ícia:
22 Fevereiro 2007
“BCP tinge notas no multibanco para evitar assaltos
Para combater o crescente ataque e assalto às caixas automáticas, o BCP está a aplicar à sua rede de ATM (automatic teller machines, vulgarmente designadas por caixas multibanco) um novo sistema de segurança.
Trata-se de um dispositivo automático que espalha tinta sobre as notas sempre que uma ATM sofre um impacto forte, ou seja, é atacada e deslocada. Como explicou ontem aos jornalistas Vítor Monteiro, director de segurança física do Millennium bcp, o funcionamento do sistema é parecido com o airbag nos automóveis: perante um choque forte na máquina, o dispositivo espalha tinta sobre as notas nos cacifos, tingindo-as e inutilizando-as. Após este accionamento, a máquina bloqueia a saída de notas, mas permite efectuar outras transacções.
O método de tintagem de notas é cada vez mais utilizado na Europa, como forma de dissuadir os ataques a ATM. Em Portugal, o Millennium bcp é o primeiro banco a adoptá-lo, tendo já começado a instalá-lo no seu parque de caixas automáticas, que ascende a 2500, o mais vasto, com uma quota de mercado de 22%. As notas tingidas (no caso dos ATM do BCP, com tinta vermelha) podem ser entregues ao Banco de Portugal, que procederá à sua substituição, desde que provada a tentativa de assalto. Aliás, este sistema está a ser implementado em articulação com o Banco de Portugal e a Sibs.
Sem indicar dados quanto ao número de caixas multibanco assaltadas, o BCP aponta como locais de maior risco os super e hipermercados, estações de serviços e organismos públicos.”

Agora esta, bem fresca:
11 Dezembro 2011
“Grupo roubou 12 multibancos numa noite
De Viana do Castelo a Espinho, numa noite foram roubadas 12 caixas de multibanco. Os assaltos foram muito rápidos e não há testemunhas, apesar de ter sido usada uma máquina rebarbadora.”

Duas notas:
1.Como já se desconfiava, confirma-se que os bancos são uns aldrabões… Ou alguém acredita que os ladrões gostam de notas com tinta?...
2. Confesso que é das notícias que mais gosto de ouvir. Afinal, ladrão que rouba a ladrão… Só espero que não se lembrem de aplicar uma taxa aos clientes como compensação destes assaltos.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Passos, o destemido

O primeiro-ministro, Passos Coelho, garantiu este domingo não ter "medo de greves" e prometeu "travar todas as batalhas" para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera "desemprego e precariedade".
Ah! Ah! Ah!
É verdade que, em termos laborais, temos um País dividido em dois: os trabalhadores que são efectivos e os que não são. Os primeiros têm mais direitos que os segundos, claro.
Mas dentro do primeiro grupo, existe ainda outra divisão: os que são funcionários públicos e os que não são. Os primeiros, pura e simplesmente, não podem ser despedidos. Os segundos, claro que sim.
Mas se o Código do Trabalho é o grande responsável pela precariedade, então a solução é impedir a generalização dos recibos verdes e dos contratos a termo e não tornar também precários os contratos mais antigos, com a facilitação dos despedimentos que se tem vindo a fazer e se pretende ainda aumentar.
Também gostava que me explicassem como é que, se é tão fácil contratar a prazo ou a recibos verdes, cada vez há mais desemprego. Não bate a bota com a perdigota. Ou seja, não é precarizando ainda mais os vínculos laborais que se diminuirá o desemprego. Muito menos aumentando o horário de trabalho.
Quanto aos despedimentos, ao contrário do que dizem muitos “expertos” da nossa praça, não há coisa mais simples de fazer. Seja por extinção do posto de trabalho, por incapacidade de adaptação a novas tarefas, por despedimento colectivo, etc. É tão fácil despedir… O problema é que facilitar ainda mais os despedimentos só vai fazer com que as empresas substituam os trabalhadores mais antigos por rapaziada nova, mais qualificada ou, pelo menos, com maior capacidade de adaptação às novas tecnologias e, principalmente, a ganhar menos.
O nosso País tem essencialmente dois tipos de problemas – para além de outros dois, muito relacionados entre si, que são a corrupção generalizada e a incompetência da justiça. São eles o excesso de funcionários públicos e a falta de competitividade da nossa economia.
O primeiro sobrecarrega insuportavelmente o erário público, porque não se consegue criar riqueza suficiente para sustentar tanta gente.
O segundo problema deriva do facto de as nossas empresas não conseguirem produzir os bens que consumimos, ou pelo menos fazê-lo com uma relação qualidade/preço que lhes possibilite serem competitivos.
O primeiro problema, sim, resolve-se através de alteração na legislação, de forma que se torne possível o despedimento. E pode-se fazê-lo sem prejudicar a qualidade do serviço prestado. Como? Se se aumentar o horário de trabalho dos funcionários públicos para 8 horas diárias, será possível despedir cerca de 100 mil pessoas, mantendo mais ou menos o volume total de horas trabalhadas. Ou seja, 600 mil pessoas a trabalharem 8 horas por dia, teoricamente, fazem o mesmo que 700 mil a trabalharem 7 horas.
O segundo é mais complicado, mas com menos funcionários públicos diminuirá substancialmente a despesa do Estado, podendo em consequência diminuir-se os impostos, o que favorece o crescimento da economia. Ao mesmo tempo, essa gente entra no mercado de trabalho, baixando, na pior das hipóteses, ainda mais os salários médios, o que será com certeza do agrado das empresas. Na melhor, uma vez que se trata de gente “altamente qualificada”, trará grandes benefícios às nossas empresas e, consequentemente, a toda a nossa economia…

sábado, 3 de dezembro de 2011

Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi*

1. «O Governo conta com as freguesias e conta com todos os presidentes de junta de freguesia» – Miguel Relvas, no Congresso Nacional das Freguesias.
Esta conversa é típica das empresas em situação de pré-falência. A administração reúne-se com os trabalhadores, diz que conta com todos, sem excepção, e passado pouco tempo começa a despedir pessoal. Quando, ainda por cima, estas palavras saem da boca de um desbocado como este ministro, autêntica picareta falante, está-se mesmo a ver o que valem...
2. Dito isto, concordo que o número de freguesias deve diminuir substancialmente, porque não é aceitável que nalgumas, de tão pequenas que são, grande parte do dinheiro seja para pagar senhas de presença.
Agora, não basta reduzir o número de juntas de freguesia. É preciso fazer o mesmo com muitas câmaras, que também não têm dimensão e também gastam muito dinheiro em senhas de presença, automóveis e empregos para amigos. Sejamos «capazes de mudar» o que importa e que «não fomos capazes de mudar no tempo certo», em vez de nos limitarmos a fazer operações de cosmética, em que só muda a aparência, para que o essencial fique na mesma.
3. Esta reforma da administração local «não preconiza um modelo adequado à realidade social portuguesa, não garante ganhos de eficácia e não respeita a vontade das populações».
As duas primeiras afirmações carecem, elas próprias, de confirmação. Na verdade, nada nos garante que sejam mudanças positivas, nem o contrário. Pela simples razão de que ainda não foram feitas. Não há que ter medo de fazer coisas, só porque se pode errar. Muito do conhecimento humano é feito de tentativa e erro. Quando se está mal, é melhor fazer alguma coisa do que deixar tudo na mesma. Ou não?
Quanto à «vontade das populações», é preciso ter alguma lata para as invocar, quando elas não se manifestam. Tenho visto muita gente protestar contra a introdução de portagens ou o fecho de centros de saúde, mas relativamente à eliminação de juntas de freguesia, nicles batatóides. Estes senhores autarcas barafustam, como barafustaram os governadores civis, porque são uns tachitos que se vão perder. Quanto às populações, o que elas estão é fartas de alimentar tanta gente que não quer trabalhar, o resto é conversa.

* «Se quisermos que as coisas permaneçam como estão, tudo deve mudar» – frase célebre do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa «Il gattopardo» («O leopardo»).

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Bancos, casas, leilões, empréstimos, arrendamentos, leis e abutres...

A última moda em matéria de venda de casas no nosso País são os leilões.
Casas que tiveram que ser devolvidas, porque os seus proprietários não conseguiram honrar os compromissos, estão a ser recolocadas no mercado pelos bancos a preços de saldo.
À primeira vista, estes leilões não são mais que "a lei da vida". Ou seja, tal como na natureza os abutres passam a vida a planar lá no alto, na busca insaciável de animais mortos ou moribundos para se poderem banquetear com eles, também na humanidade os "abutres" vivem da desgraça alheia, comprando a preços de saldo casas, empresas e todo o tipo de bens, que os anteriores proprietários foram forçados a entregar aos credores, em consequência de terem ficado desempregados, falido, ou de alguma forma terem sofrido uma diminuição nos seus rendimentos.
Embora ninguém simpatize com os abutres, a verdade é que, entre ser um deles ou uma das suas vítimas, a escolha seria certamente fácil para toda a gente.
Assim, os "abutres" são aparentemente gente que, tendo dinheiro disponível, aproveitam as crises para investir, comprando por preços baixos bens que, em circunstâncias normais, custariam muito mais. Depois, passadas essas crises, realizarão mais valias substanciais, ao recolocarem esses bens num mercado "renascido".
A vida é isto, tanto na selva como na humanidade. A desgraça de uns é a sorte de outros. Não é bonito (por isso é que os "sortudos" se chamam abutres), mas é assim.
No entanto, em Portugal as coisas são ligeiramente diferentes. A maioria desses abutres parece que também não nada em dinheiro, de maneira que recorre à dita-cuja-malfadada-e-responsável-por-tanta-coisa-má-da-nossa-economia-banca. Esta, longe de ter aprendido com os erros do passado, desata a criar condições especiais de empréstimos para aquisição de casas em leilões. 
Ou seja, toda a gente sabe que a banca, ao longo dos últimos anos, contribuiu para este sobre-endividamento da população, ao conceder empréstimos às pessoas para aquisição de bens de consumo, muitas vezes em pacotes que incluíam casas, mobílias, carros e férias. Também é sabido que alinhou sempre em toda a espécie de investimentos megalómanos e não reprodutivos com os sucessivos governos, tudo isto a pagar ao longo de prazos cada vez mais alargados, muitas vezes claramente superiores à própria vida das pessoas que assumiram esses compromissos. Quando deixou de ter dinheiro para emprestar, pois há muito que os portugueses deixaram de poupar, seduzidos pela vertigem do acesso fácil ao crédito ao consumo, passou a recorrer aos bancos dos países que, embora (e talvez também por isso...) mais ricos, tinham e têm o dinheiro das poupanças das suas populações. Qualquer pessoa que não fosse completamente estúpida percebeu há muito tempo que este forrobodó teria um dia que terminar. Mas quê, ninguém quis saber, porque é sempre mais cómodo fingir que tudo está bem do que enfrentar a dura realidade. Até que um dia...
Concluindo, temos hoje famílias inteiras a terem que ir para casa dos avós, porque os bancos exigem as suas casas, ao mesmo tempo que esses mesmos bancos emprestam dinheiro a outras pessoas para comprarem essas casas a preços substancialmente mais baixos. 
Entretanto, as tão apregoadas medidas de estímulo ao arrendamento continuam sem surtir efeitos.
Será impressão minha, ou há aqui alguma coisa que não bate certo?

PS - Pela primeira vez em Espanha, um Tribunal reconheceu, já este ano, que a entrega das chaves de uma casa salda por completo a dívida hipotecária pendente com uma entidade financeira. Em Portugal ainda não. Ou seja, por cá uma pessoa fica sem a casa por não a poder continuar a pagar, fica sem o dinheiro que já pagou por ela e ainda fica com uma dívida perante o banco. Isto é racional?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ver para crer




É só para lembrar os (lampiões) mais esquecidos. Vejam bem as fotos. A da esquerda é a do momento. Malandros dos lagartos!
Mas... espera aí! A da direita... O quê? A claque lampiã já tinha feito o mesmo em Alvalade? Não pode ser! Nunca tinha ouvido falar nisto! Muito menos visto. Portanto, o que não se vê, nem se ouve, nunca existiu, não é verdade?
O quê? Ah, mesmo admitindo que a foto é verdadeira, e não uma montagem, vê-se bem que arderam menos cadeiras em Alvalade do que na Luz? Eh pá, para quem não sabia disto, agora já consegue ver que são menos... Isto é o que se chama imparcialidade... Portanto, é uma questão de número de cadeiras? A ti o que te falta é uma... pelos ditos abaixo, faccioso do caraças.
Solução: acabar com as claques! Certo? ERRADO! Em democracia não se atiram minorias para a clandestinidade, disso já tivemos no tempo da outra senhora. Aqui o que há a fazer são essencialmente duas coisas:
1- Os clubes (todos) podem (e provavelmente devem) deixar de apoiar estes grupos.
2- As nossas tristes, corruptas e incompetentes autoridades devem actuar. Porque havia muitas câmaras na luz, de certeza que é possível identificar os incendiários. Porque muitos dos líderes destas claques são sobejamente conhecidos como bandidos, ladrões e traficantes, há que prendê-los. São casos de polícia. Quanto aos outros, experimentem tratá-los como gente civilizada e provavelmente ficarão agradavelmente surpreendidos com o resultado. É simples: os malandros prendem-se; os outros tratam-se civilizadamente.
Por exemplo, não se põem cinco pessoas a revistar mais de três mil adeptos que pagaram os respectivos bilhetes, forçando-os a entrar no estádio cinco minutos antes do intervalo. Isto é mesmo só para chatear. Porque se fosse para os revistar como deve ser nunca entravam very lights nos estádios, nem bolas de golfe, nem sequer isqueiros. Também não se mentia às pessoas, dizendo que havia lugares disponíveis na "gaiola" ou "jaula", ou lá o que era aquela cena com rede que prejudicava muito a visibilidade. Senão, vejamos:
"1- Havia 3 a 4 filas vazias, as mais próximas junto à rede, não porque não houvessem adeptos sportinguistas para as encher, mas porque o dispositivo policial e os stewards formaram ali um cordão de segurança e não permitiram que os mesmos as utilizassem.
2- O nº de cadeiras naquele sector era inferior ao nº de bilhetes vendidos (3425), isso era óbvio ao 1º olhar, não era preciso ser-se um cientista para se lá chegar, havia de facto pessoas nas coxias, nas bocas de acesso e a dividirem cadeiras.
3- Abrir uma porta, com cinco filas, com um vigilante por fila, para revistar, um a um, 3425 sportinguistas, num período de 75 minutos é sintomático de uma de duas coisas...premeditação óbvia para retardar a nossa entrada no recinto, ou incompetência grosseira para a gestão e controle de acessos a eventos desportivos.
4- A falta de condições era notória, só uma casa de banho aberta e um bar com um balcão de 3 metros de largura, todos os outros espaços iguais estavam fechados, isto tudo para 3425 pessoas, seriam até mais que isso, pessoas essas que pagaram 22€, e que merecem respeito, nem que seja como consumidores pagantes.
5- Muitos elementos da Polícia de Intervenção e do SIR, disseram, em alto e bom som, que eram as ordens do Benfica, e que nada podiam fazer, em virtude de ser o proprietário do espaço a decidir como se processam as entradas."

http://scpmovimentoleonino1906.blogspot.com/2011/11/joao-gabriel-o-pinoquio-emborrachado.html


Os adeptos do Sporting não esfaquearam nem mataram um adepto rival. Também não agrediram um árbitro num centro comercial. E não insultaram nem agrediram um (pseudo) jornalista.
Os que o fizeram (lampiões nos primeiros três casos e tripeiros no último) deveriam ir, não para a dita caixa de segurança, mas para a prisão. E não só não vão, como já está tudo esquecido. E agora, esta facciosa e acéfala comunicação social trata as pessoas como estúpidas, pretendendo fazer-lhes crer que umas cadeiras queimadas, que ninguém quis apagar para se poder, com as imagens, provocar uma onda de indignação, são mais graves que tudo o resto.
Entretanto, parece que voltou a acontecer qualquer coisa no mais famoso túnel do País.
Fiquemos atentos às cenas dos próximos capítulos...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Por estas e por outras é que eu nunca atravesso nas passadeiras...

Assunção Esteves teve acidente de viação


Isto já nem é notícia, é mais velhícia, pois os factos ocorreram em Agosto. Mas, como se trata da titular do segundo mais alto cargo da nação, tem a sua importância.
Parece que a senhora circulava tranquilamente no seu bólide em Faro, com certeza no gozo de merecidas férias para recuperar do muito (muitíssimo...) trabalho que desenvolve no seu dia-a-dia, em que contribui com o seu enorme e decisivo esforço e com o seu exemplar exemplo (passe o pleonasmo) para endireitar de vez este pobre País. 
Trabalha tanto que se reformou aos 42 anos, ou seja, até essa idade conseguiu trabalhar o suficiente para se reformar, enquanto as pessoas normais só o conseguem aos 65 anos. Isto só foi possível - sei-o de fonte segura -, por Assunção Esteves ter trabalhado 24 horas por dia (fora a noite), durante oito anos, como juíza do Tribunal Constitucional, cargo para que foi convidada em virtude do seu extraordinário currículo. Na verdade, com 32 anos, já estava licenciada, contrariamente ao Sócrates, ao Vara, ao Seguro e até, imagine-se, ao Passos Coelho. E mais: não consta que tivesse concluído essa licenciatura a um domingo e muito menos por fax. Apesar de reformada, ciente da indispensabilidade da sua contribuição para o desenvolvimento do País, continuou a labutar sem desfalecimentos, primeiro como deputada e actualmente como Presidente da Assembleia da República. Mais: generosa como é, Assunção Esteves trabalha de borla. Pois, é verdade, abdicou de receber o ordenado de 5.219,15 euros, mantendo, apenas, o direito a ajudas de custo no valor de 2.133 euros. É claro que as más línguas dirão que os 7.255 euros de pensão que recebe por oito anos de trabalho como juíza do Tribunal Constitucional não são acumuláveis com esse salário e que por isso é que ela optou pela pensão, que é mais elevada. Enfim, para esses velhos do Restelo é-se preso por ter cão e preso por não ter. Por falar em cães, estes ladram e a caravana passa.
Com certeza devido ao enorme cansaço, mais, quase total esgotamento físico e psicológico derivado da sua lendária obsessão pelo trabalho (é já um case study nas melhores universidades de todo o Mundo), não conseguiu travar a tempo o carro onde seguia sozinha (os seus motoristas também têm direito a férias) "e embateu numa viatura, que tinha travado para uma idosa atravessar a passadeira". Este automóvel embateu no carro à sua frente "e este atingiu a mulher, que ficou ferida com gravidade e foi transportada para o Hospital de Faro", escreveu na altura o Correio da Manhã. 
Agora imaginem a velocidade a que a excelentíssima senhora circulava. Reparem: bateu no carro que estava parado à sua frente. Este, por sua vez, bateu noutro que tinha parado para uma idosa, uma mulher (nem senhora é), atravessar uma passadeira e, em consequência, a dita cuja foi atropelada com gravidade. Que velocidade será necessária para fazer semelhante estrago? Aceitam-se apostas. Ou seja, tem um ritmo de vida tão rápido que, mesmo de férias, não tira o pé do acelerador.
Graças ao Altíssimo (bem haja), sempre justo, sempre atento aos mais necessitados, nem Assunção Esteves nem qualquer um dos outros condutores sofreram qualquer ferimento. Foi mesmo só a velha. Coitada, mas também já cá não faz falta nenhuma, não é? Velhos há para aí com fartura. E, no fundo, até teve sorte, porque podia ter morrido.
Ou seja, tudo está bem quando acaba bem.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Legalidade versus moralidade, ou mais um exemplo de como a desvergonha e a impunidade ajudam a explicar “o estado a que chegámos”…

O recente “caso Miguel Macedo” apresenta-se em dois planos: legal e ético.
Do ponto de vista legal, não restam dúvidas de que ele pode receber o subsídio de deslocação, apesar de ter casa em Lisboa.
Do ponto de vista ético, também não restam dúvidas de que não pode.
Alguns comentadores alegam a imoralidade da “coisa”, devido à situação financeira do País. Ora, como se diz na minha terra, “não tem nada que ver o cu com as calças”. Isso, quando muito, poderá ser um factor agravante. Porque a ética e a moral situam-se num plano distinto das questões financeiras, devendo verificar-se em todas as ocasiões, mesmo em tempos de "vagas gordas".
Aliás, se os comportamentos das pessoas privilegiassem sempre a ética, nem seriam precisas leis, que todos nós sabemos quem as faz (não o Parlamento e o Governo, mas sim os advogados dos grandes escritórios, que ganham milhões nos seus negócios com o Estado) e com que objectivos (criar buracos que depois permitam a esses mesmos advogados ajudar os seus clientes a fugir à aplicação dessas mesmas leis).
Um parecer(1) do Conselho Consultivo da PGR relativamente a esta questão é disso exemplo flagrante e escandaloso, ao mostrar como é possível deturpar legalmente o espírito de uma lei, quando afirma que ter “casa própria” na capital não é impeditivo de receber o subsídio previsto no DL 72/80(2).
Analisemos então o DL 72/80.
Primeira questão: como é que o facto de um político ter casa própria em Lisboa pode não ser impedimento ao recebimento do subsídio? O DL 72/80 diz expressamente que tem como objectivo uma “compensação monetária” aos governantes “que habitem a considerável distância da capital” pelos encargos que resultam da sua “fixação em Lisboa”! Quem tem casa não tem esses encargos, certo? Então para quê a compensação?
Segunda questão: este diploma fala ainda da “rarefacção de habitações passíveis de arrendamento”, à época, na área da grande Lisboa, para justificar a concessão do subsídio. Essa dificuldade de arrendar casa em Lisboa ainda se mantém, como há 31 anos?
Terceira questão: como é que o que conta para justificar este subsídio é o conceito “habitação permanente” e que raio de conceito é este? O Miguel Macedo(3) tornou-se deputado em 1987, com 28 anos. Esta tem sido a sua principal actividade ao longo dos últimos 24 anos. Quando não foi deputado, foi governante (secretário de estado três vezes e agora ministro). Exerce ainda a profissão de advogado, presume-se que com escritório aberto em Lisboa. Se o homem vive e trabalha em Lisboa desde (provavelmente) o início da sua carreira profissional, tendo certamente família a viver também na capital, como é que é possível alegar que a sua “habitação permanente” é em Braga e assim receber o subsequente subsidiozito?
Compare-se a situação destes políticos com os muitos milhares de pessoas que, sendo de fora de Lisboa (ou de qualquer outra terra), para lá foram viver por razões profissionais. É do mais elementar: as pessoas vão viver para as terras onde têm trabalho, fixando aí residência. Ou, se fazem questão de ir dormir à terra de origem, por mais distante que seja, o problema é delas. Não se pode é imputar essa despesa ao erário público.
Até porque o referido parecer do Conselho Consultivo da PGR diz que as “funções governativas […] por natureza são temporárias em sociedades democráticas”. Isso significa que, terminadas essas funções, as pessoas voltam à sua vida normal, regressando às terras de origem. Nesses casos, sim, fará sentido a compensação. Mas nunca no caso de políticos profissionais. Estes vivem de facto na capital, mantendo apenas por oportunismo a oficial “habitação permanente” nas terras de origem para poderem receber o subsídio.
Conclusão: no mínimo, a lei deveria estabelecer um prazo máximo para a concessão do subsídio aos políticos, por exemplo uma legislatura. Depois, ou regressavam à terrinha ou arranjavam casa em Lisboa, como tem que fazer qualquer pessoa normal.

PS - Dirá o Miguel Macedo: "E sou só eu? Cadê os outros?"

_________________
(1) Parecer do Conselho Consultivo da PGR:
http://www.dgsi.pt/pgrp.nsf/7fc0bd52c6f5cd5a802568c0003fb410/44e56bc022e797088025661700416f2c?OpenDocument&ExpandSection=-1

(2) O DL 72/80 é dedicado aos governantes e respectivos chefes de gabinete. Mais tarde Cavaco Silva e Miguel Cadilhe, pelo DL 303/86, tornaram extensivo este regime aos directores-gerais, secretários-gerais e outros cargos expressamente equiparados da Administração Pública. Os deputados já usufruíam deste benefício desde 1976 (Lei 5/76) e os governadores civis desde 1979 (DL 67/79)…
http://dre.pt/sug/1s/diplomas-lista.asp

(3) Miguel Macedo é deputado desde a V legislatura (1987), quando tinha 28 anos, mantendo no entanto a residência oficial em Braga e recebendo, em consequência, desde essa época a compensação prevista na legislação, ora por ser deputado, ora por ser governante.
http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=123

Blog que fala sobre o caso de Miguel Macedo:
http://cidadelusa.blogspot.com/2011/10/polemica-do-subsidio-de-alojamento-i.html