De facto (e não de fato, porque o c lê-se), é sintomático que, perante um acordo com mais de vinte anos, a única coisa que o secretário de Estado da Cultura diga é que ainda temos mais três anos para o "aperfeiçoar"...
De facto, o acordo é mau, porque foi feito a reboque dos brasileiros. Mas o problema não é a subalternização ao Brasil em si, embora isso não seja agradável, principalmente porque a Língua Portuguesa nasceu aqui e não lá. O verdadeiro problema é o facto de ninguém em Portugal sentir necessidade de alterar a ortografia. O argumento de que a nova ortografia torna mais fácil a aprendizagem para as criancinhas é ridículo. Que dizer então das criancinhas inglesas ou alemãs, por exemplo?
Ao contrário do Brasil, em que as vogais são sempre pronunciadas como se fossem acentuadas (abertas), em Portugal as consoantes mudas servem, nalguns casos, para "acentuar" as vogais que as precedem. Pelo menos nestes casos elas deveriam manter-se. Por exemplo: "espectador" versus "espetador". Outra situação sem jeito nenhum: "acto" versus "ato". Outra: "Egito" versus "egípcio". Não faz sentido, a origem das duas palavras é a mesma. Depois, há outro tipo de questão: "expectativa" no Brasil leva c (porque se lê), enquanto em Portugal o c desaparece, por ser mudo. Além disso, a tendência, no futuro, é para o segundo e deixar de se ler como se fosse acentuado, passando a ler-se "espetativa", como na palavra "espetar". Bem basta a tendência que se vai impondo de alteração de pronúncias correctas por outras incorrectas "à moda de Lisboa". Exmplo: "actriz" (àtriz) passou a ser "âtriz". Actor (àtor), por enquanto, não. Já agora, para quando "àtora"? Outro exemplo: "ovelha" (uvelha), em Lisboa (e, gradualmente, no País) é "òvelha"...
Não chega já isto, juntamente com o facto de as pessoas cada vez falarem (e escreverem) pior, ainda precisávamos de metermos o Brasil na história? Confesso que, por muito carinho e amizade que sinta (e sinto) por aquele grande país, faz-me uma grande confusão ler textos ou ouvir brasileiros dizerem "nóis vamo sêmpri fàlá djifèrentchi, mais à pàrrtchir dji àgora vamo iscrèvê iguau. Não é pòssívèu vòutar àtrais. E vou tchi djizê, cara, você tem qui aguentá esse troço, porrqui êssi càminho não tem mais retorno não. O Bràsiu tem muità gêntchi, por isso ti djigo que vocês têm qui iscrèvê como nóis. Por exemplo, cêis têm qui pàssá à iscrèvê umidàdji, iguau à gêntchi. O àgá dji homem, por enquanto, não si tchirà. Mais dá mais um tempinho e você vai verr."
E quando Angola e Moçambique, que também têm muito mais falantes de Português do que nós, quiserem igualmente impor algumas alterações?
Parem enquanto é tempo!...
E quando Angola e Moçambique, que também têm muito mais falantes de Português do que nós, quiserem igualmente impor algumas alterações?
Parem enquanto é tempo!...