segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ladrão que rouba a ladrão…

Vejam esta not(velh)ícia:
22 Fevereiro 2007
“BCP tinge notas no multibanco para evitar assaltos
Para combater o crescente ataque e assalto às caixas automáticas, o BCP está a aplicar à sua rede de ATM (automatic teller machines, vulgarmente designadas por caixas multibanco) um novo sistema de segurança.
Trata-se de um dispositivo automático que espalha tinta sobre as notas sempre que uma ATM sofre um impacto forte, ou seja, é atacada e deslocada. Como explicou ontem aos jornalistas Vítor Monteiro, director de segurança física do Millennium bcp, o funcionamento do sistema é parecido com o airbag nos automóveis: perante um choque forte na máquina, o dispositivo espalha tinta sobre as notas nos cacifos, tingindo-as e inutilizando-as. Após este accionamento, a máquina bloqueia a saída de notas, mas permite efectuar outras transacções.
O método de tintagem de notas é cada vez mais utilizado na Europa, como forma de dissuadir os ataques a ATM. Em Portugal, o Millennium bcp é o primeiro banco a adoptá-lo, tendo já começado a instalá-lo no seu parque de caixas automáticas, que ascende a 2500, o mais vasto, com uma quota de mercado de 22%. As notas tingidas (no caso dos ATM do BCP, com tinta vermelha) podem ser entregues ao Banco de Portugal, que procederá à sua substituição, desde que provada a tentativa de assalto. Aliás, este sistema está a ser implementado em articulação com o Banco de Portugal e a Sibs.
Sem indicar dados quanto ao número de caixas multibanco assaltadas, o BCP aponta como locais de maior risco os super e hipermercados, estações de serviços e organismos públicos.”

Agora esta, bem fresca:
11 Dezembro 2011
“Grupo roubou 12 multibancos numa noite
De Viana do Castelo a Espinho, numa noite foram roubadas 12 caixas de multibanco. Os assaltos foram muito rápidos e não há testemunhas, apesar de ter sido usada uma máquina rebarbadora.”

Duas notas:
1.Como já se desconfiava, confirma-se que os bancos são uns aldrabões… Ou alguém acredita que os ladrões gostam de notas com tinta?...
2. Confesso que é das notícias que mais gosto de ouvir. Afinal, ladrão que rouba a ladrão… Só espero que não se lembrem de aplicar uma taxa aos clientes como compensação destes assaltos.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Passos, o destemido

O primeiro-ministro, Passos Coelho, garantiu este domingo não ter "medo de greves" e prometeu "travar todas as batalhas" para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera "desemprego e precariedade".
Ah! Ah! Ah!
É verdade que, em termos laborais, temos um País dividido em dois: os trabalhadores que são efectivos e os que não são. Os primeiros têm mais direitos que os segundos, claro.
Mas dentro do primeiro grupo, existe ainda outra divisão: os que são funcionários públicos e os que não são. Os primeiros, pura e simplesmente, não podem ser despedidos. Os segundos, claro que sim.
Mas se o Código do Trabalho é o grande responsável pela precariedade, então a solução é impedir a generalização dos recibos verdes e dos contratos a termo e não tornar também precários os contratos mais antigos, com a facilitação dos despedimentos que se tem vindo a fazer e se pretende ainda aumentar.
Também gostava que me explicassem como é que, se é tão fácil contratar a prazo ou a recibos verdes, cada vez há mais desemprego. Não bate a bota com a perdigota. Ou seja, não é precarizando ainda mais os vínculos laborais que se diminuirá o desemprego. Muito menos aumentando o horário de trabalho.
Quanto aos despedimentos, ao contrário do que dizem muitos “expertos” da nossa praça, não há coisa mais simples de fazer. Seja por extinção do posto de trabalho, por incapacidade de adaptação a novas tarefas, por despedimento colectivo, etc. É tão fácil despedir… O problema é que facilitar ainda mais os despedimentos só vai fazer com que as empresas substituam os trabalhadores mais antigos por rapaziada nova, mais qualificada ou, pelo menos, com maior capacidade de adaptação às novas tecnologias e, principalmente, a ganhar menos.
O nosso País tem essencialmente dois tipos de problemas – para além de outros dois, muito relacionados entre si, que são a corrupção generalizada e a incompetência da justiça. São eles o excesso de funcionários públicos e a falta de competitividade da nossa economia.
O primeiro sobrecarrega insuportavelmente o erário público, porque não se consegue criar riqueza suficiente para sustentar tanta gente.
O segundo problema deriva do facto de as nossas empresas não conseguirem produzir os bens que consumimos, ou pelo menos fazê-lo com uma relação qualidade/preço que lhes possibilite serem competitivos.
O primeiro problema, sim, resolve-se através de alteração na legislação, de forma que se torne possível o despedimento. E pode-se fazê-lo sem prejudicar a qualidade do serviço prestado. Como? Se se aumentar o horário de trabalho dos funcionários públicos para 8 horas diárias, será possível despedir cerca de 100 mil pessoas, mantendo mais ou menos o volume total de horas trabalhadas. Ou seja, 600 mil pessoas a trabalharem 8 horas por dia, teoricamente, fazem o mesmo que 700 mil a trabalharem 7 horas.
O segundo é mais complicado, mas com menos funcionários públicos diminuirá substancialmente a despesa do Estado, podendo em consequência diminuir-se os impostos, o que favorece o crescimento da economia. Ao mesmo tempo, essa gente entra no mercado de trabalho, baixando, na pior das hipóteses, ainda mais os salários médios, o que será com certeza do agrado das empresas. Na melhor, uma vez que se trata de gente “altamente qualificada”, trará grandes benefícios às nossas empresas e, consequentemente, a toda a nossa economia…

sábado, 3 de dezembro de 2011

Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi*

1. «O Governo conta com as freguesias e conta com todos os presidentes de junta de freguesia» – Miguel Relvas, no Congresso Nacional das Freguesias.
Esta conversa é típica das empresas em situação de pré-falência. A administração reúne-se com os trabalhadores, diz que conta com todos, sem excepção, e passado pouco tempo começa a despedir pessoal. Quando, ainda por cima, estas palavras saem da boca de um desbocado como este ministro, autêntica picareta falante, está-se mesmo a ver o que valem...
2. Dito isto, concordo que o número de freguesias deve diminuir substancialmente, porque não é aceitável que nalgumas, de tão pequenas que são, grande parte do dinheiro seja para pagar senhas de presença.
Agora, não basta reduzir o número de juntas de freguesia. É preciso fazer o mesmo com muitas câmaras, que também não têm dimensão e também gastam muito dinheiro em senhas de presença, automóveis e empregos para amigos. Sejamos «capazes de mudar» o que importa e que «não fomos capazes de mudar no tempo certo», em vez de nos limitarmos a fazer operações de cosmética, em que só muda a aparência, para que o essencial fique na mesma.
3. Esta reforma da administração local «não preconiza um modelo adequado à realidade social portuguesa, não garante ganhos de eficácia e não respeita a vontade das populações».
As duas primeiras afirmações carecem, elas próprias, de confirmação. Na verdade, nada nos garante que sejam mudanças positivas, nem o contrário. Pela simples razão de que ainda não foram feitas. Não há que ter medo de fazer coisas, só porque se pode errar. Muito do conhecimento humano é feito de tentativa e erro. Quando se está mal, é melhor fazer alguma coisa do que deixar tudo na mesma. Ou não?
Quanto à «vontade das populações», é preciso ter alguma lata para as invocar, quando elas não se manifestam. Tenho visto muita gente protestar contra a introdução de portagens ou o fecho de centros de saúde, mas relativamente à eliminação de juntas de freguesia, nicles batatóides. Estes senhores autarcas barafustam, como barafustaram os governadores civis, porque são uns tachitos que se vão perder. Quanto às populações, o que elas estão é fartas de alimentar tanta gente que não quer trabalhar, o resto é conversa.

* «Se quisermos que as coisas permaneçam como estão, tudo deve mudar» – frase célebre do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa «Il gattopardo» («O leopardo»).

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Bancos, casas, leilões, empréstimos, arrendamentos, leis e abutres...

A última moda em matéria de venda de casas no nosso País são os leilões.
Casas que tiveram que ser devolvidas, porque os seus proprietários não conseguiram honrar os compromissos, estão a ser recolocadas no mercado pelos bancos a preços de saldo.
À primeira vista, estes leilões não são mais que "a lei da vida". Ou seja, tal como na natureza os abutres passam a vida a planar lá no alto, na busca insaciável de animais mortos ou moribundos para se poderem banquetear com eles, também na humanidade os "abutres" vivem da desgraça alheia, comprando a preços de saldo casas, empresas e todo o tipo de bens, que os anteriores proprietários foram forçados a entregar aos credores, em consequência de terem ficado desempregados, falido, ou de alguma forma terem sofrido uma diminuição nos seus rendimentos.
Embora ninguém simpatize com os abutres, a verdade é que, entre ser um deles ou uma das suas vítimas, a escolha seria certamente fácil para toda a gente.
Assim, os "abutres" são aparentemente gente que, tendo dinheiro disponível, aproveitam as crises para investir, comprando por preços baixos bens que, em circunstâncias normais, custariam muito mais. Depois, passadas essas crises, realizarão mais valias substanciais, ao recolocarem esses bens num mercado "renascido".
A vida é isto, tanto na selva como na humanidade. A desgraça de uns é a sorte de outros. Não é bonito (por isso é que os "sortudos" se chamam abutres), mas é assim.
No entanto, em Portugal as coisas são ligeiramente diferentes. A maioria desses abutres parece que também não nada em dinheiro, de maneira que recorre à dita-cuja-malfadada-e-responsável-por-tanta-coisa-má-da-nossa-economia-banca. Esta, longe de ter aprendido com os erros do passado, desata a criar condições especiais de empréstimos para aquisição de casas em leilões. 
Ou seja, toda a gente sabe que a banca, ao longo dos últimos anos, contribuiu para este sobre-endividamento da população, ao conceder empréstimos às pessoas para aquisição de bens de consumo, muitas vezes em pacotes que incluíam casas, mobílias, carros e férias. Também é sabido que alinhou sempre em toda a espécie de investimentos megalómanos e não reprodutivos com os sucessivos governos, tudo isto a pagar ao longo de prazos cada vez mais alargados, muitas vezes claramente superiores à própria vida das pessoas que assumiram esses compromissos. Quando deixou de ter dinheiro para emprestar, pois há muito que os portugueses deixaram de poupar, seduzidos pela vertigem do acesso fácil ao crédito ao consumo, passou a recorrer aos bancos dos países que, embora (e talvez também por isso...) mais ricos, tinham e têm o dinheiro das poupanças das suas populações. Qualquer pessoa que não fosse completamente estúpida percebeu há muito tempo que este forrobodó teria um dia que terminar. Mas quê, ninguém quis saber, porque é sempre mais cómodo fingir que tudo está bem do que enfrentar a dura realidade. Até que um dia...
Concluindo, temos hoje famílias inteiras a terem que ir para casa dos avós, porque os bancos exigem as suas casas, ao mesmo tempo que esses mesmos bancos emprestam dinheiro a outras pessoas para comprarem essas casas a preços substancialmente mais baixos. 
Entretanto, as tão apregoadas medidas de estímulo ao arrendamento continuam sem surtir efeitos.
Será impressão minha, ou há aqui alguma coisa que não bate certo?

PS - Pela primeira vez em Espanha, um Tribunal reconheceu, já este ano, que a entrega das chaves de uma casa salda por completo a dívida hipotecária pendente com uma entidade financeira. Em Portugal ainda não. Ou seja, por cá uma pessoa fica sem a casa por não a poder continuar a pagar, fica sem o dinheiro que já pagou por ela e ainda fica com uma dívida perante o banco. Isto é racional?