quarta-feira, 21 de março de 2012

Polícias, árbitros, camaradagem e honestidade

O que é que estes dois casos têm em comum?

1. GNR processa colega envolvido em acidente
O Ministério Público (MP) de Albufeira está a investigar uma queixa de um militar da GNR contra um colega envolvido no atropelamento de duas jovens, na madrugada da Passagem de Ano, em Albufeira. Ao que o CM apurou, o processo em curso em tribunal é relativo aos crimes de injúrias e abuso de poder.

2. Carlos Freitas pede explicações a Vítor Pereira devido aos testes físicos dos árbitros
No final do Gil Vicente-Sporting Carlos Freitas disse que chegou a altura de Vítor Pereira explicar o que se passou nos testes físicos do curso de árbitros que decorreu recentemente no Luso.

O que é que estes dois casos têm em comum?
Aparentemente, nada.
Mas na realidade há um pequeno pormenor que é comum aos dois.
No primeiro caso, um GNR ia a conduzir com os copos (1,65 g/l) na noite da passagem de ano e atropelou duas garotas.
Depois trocou com uma mulher, para fingir que ela é que ia a conduzir, mas parece que acabaram por lhe descobrir a careca.
E então ele ficou muito ofendido, porque queria que os colegas que tomaram conta da ocorrência lhe demonstrassem "camaradagem".
Essa "camaradagem", para ele, significaria talvez que não lhe fizessem o teste de alcoolemia, ou que o deixassem ir embora, não se percebe pela notícia do CM.
Seja como for, "camaradagem" para ele significa seguramente não querer assumir as responsabilidades por inteiro, colocando os seus próprios interesses à frente dos das miúdas atropeladas.
Numa palavra, significa "desonestidade".
E também "cobardia", já agora.

Vejamos agora o segundo caso, o dos "camaradas" árbitros:
O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol decidiu, no dia 2 de Fevereiro, castigar o árbitro João Ferreira com três jogos de suspensão por se ter recusado a apitar um jogo do Sporting na segunda jornada.
O Paulo Baptista, nomeado para o substituir, também se recusou e apanhou dois jogos.
Agora, num curso que os árbitros fizeram, decidiram todos, obviamente por "camaradagem", dar uma volta ao campo a menos (14), enquanto "o roque e a amiga" cumpriram 15 voltas, recuperando assim, graças aos "fantásticos" regulamentos da arbitragem, os pontos que tinham perdido em consequência dos respectivos castigos.

As palavras "camaradagem" e "honestidade", em ambos os casos, são incompatíveis.
Cada uma impede a outra.
No primeiro caso, felizmente, prevaleceu a segunda.
No segundo caso, infelizmente, ganhou a "camaradagem".

Os protagonistas do primeiro caso são polícias.
Agentes da autoridade.
O polícia bêbado falhou duas vezes.
A primeira por conduzir sem estar em condições de o fazer, como infelizmente se confirmou com o triste atropelamento das duas jovens.
A segunda, para mim muito mais grave, por não querer assumir as responsabilidades.
Felizmente os outros polícias perceberam que mais importante do que a "camaradagem" é a "honestidade". Palavra, para mal dos nossos pecados, em desuso nos dias que correm.
Em consequência, o polícia prevaricador terá que ser assumir as consequências.
Final feliz, para um caso infeliz.
Pensando bem, o caso ainda nem sequer foi a julgamento, pelo que falar aqui de "justiça" é manifestamente prematuro.
A ver vamos, como diz o cego...

Os protagonistas do segundo caso são árbitros.
Agentes da autoridade, dentro dos campos de futebol.
Juízes.
Não lhes compete prender ninguém, mas têm uma missão ainda mais difícil, devido à grande exposição mediática e à "paixão" (outra palavra adulterada...) dos adeptos da bola.
Compete-lhes impedir que a "batota" se sobreponha à "justiça" nos jogos de futebol.
No recente Gil Vicente-Sporting, por exemplo, o Paixão, árbitro com um currículo deveras "assinalável", conseguiu bater todos os seus anteriores recordes: assinalou dois penaltis contra o Sporting num minuto (inédito, tanto quanto a minha memória alcança), o primeiro dos quais por uma mão que mais ninguém viu, fora da área e num lance em que o jogador do Sporting sofreu falta.
Voltando aos testes físicos dos "camaradas" árbitros, depois deste caso da "volta a mais", ainda haverá quem duvide da desonestidade dos árbitros?
Até aqui, havia sempre quem os defendesse (os mais beneficiados ou menos prejudicados pelas suas arbitragens, claro).
Mesmo quando os criticavam, tinham sempre o cuidado de salvaguardar a sua "honestidade".
"Erraram porque não sabem mais, não porque sejam desonestos".
E agora?
Quem faz uma batota destas, também é capaz de fazer outras, não?
Ou a palavra "batota" deixa de ser errada, se trouxer associada a palavra "camaradagem"?
Então e onde é que fica a palavra "honestidade", no meio disto tudo?

Veja as notícias completas:

1.º caso:
O caso polémico, tal como o CM noticiou na altura, deu origem a uma averiguação interna do Comando-Geral da GNR. No carro envolvido no acidente seguiam dois GNR e sobre um deles, alcoolizado, surgiram suspeitas de que ia a conduzir o carro. Teria depois trocado de lugar com uma mulher.
Os dois guardas estavam fora de serviço e seguiam no carro que atropelou Bianca Pinto e Ana Filipa Brito. Esta continua hoje a sofrer com as lesões (ver apoios). O automóvel só parou cerca de 60 metros à frente do local do acidente. Ao que o CM apurou, os militares na viatura acusaram 1,65 g/l e 0,41 g/l de álcool no sangue.
A queixa surge depois de um deles, H.R., que estaria muito exaltado, ter ofendido várias vezes os colegas que tomavam conta da ocorrência. "Espero que não vos encontre numa situação destas, aí a conversa é outra. Assim é que se vê a camaradagem", terá dito o militar, à civil, aos colegas de serviço, em tom de ameaça. O segundo guarda que ia no carro tentou acalmar o colega, mas em vão. Quando um dos GNR em serviço se preparava para transportar a alegada condutora ao centro de saúde , para fazer testes psicotrópicos e de álcool, com recolha de sangue, o militar à civil voltou a insultar os colegas. "Vocês são uns filhos da p..., vão para o c..., cab...", terá dito.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/gnr-processa-colega-envolvido-em-acidente 

2.º caso:
Na ação coordenada por Vítor Pereira e que reuniu os árbitros e árbitros assistentes de 1.ª categoria, os presentes decidiram “repor a justiça”, ou seja, deram aos árbitros João Ferreira, Paulo Baptista e Rui Patrício, e aos assistentes Pais António e Valter Pereira, os pontos que lhes foram subtraídos na sequência do castigo, a 2 de fevereiro, decidido pelo CD da FPF.
A melhor forma que os árbitros encontraram para contestar esta decisão foi a de no teste de corrida permitirem que os árbitros castigados tivessem pontuação máxima, cumprindo 15 das 10 voltas exigidas enquanto o pelotão corria apenas 14. A partir da 10.ª volta, cada percurso de 400 metros tem um bónus e foi desta forma que puderam recuperar os pontos perdidos aquando da penalização sofrida.
http://www.record.xl.pt/Futebol/Arbitragem/interior.aspx?content_id=747442

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