sábado, 29 de dezembro de 2012

A barbárie em pleno século XXI


Morreu jovem indiana vítima de violação em grupo

«Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos»
— Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo)

Apesar da minha enorme admiração pelo grande escritor francês, e de eu próprio achar que a pena de morte não é uma coisa digna de países civilizados, confesso que não me sentiria nada incomodado se aqueles "animais" fossem condenados à morte, o que, aliás, pode bem acontecer.
Até porque a Índia, em matéria de direitos das mulheres, não é propriamente um país civilizado. Senão, vejamos:
- Em consequência dos abortos selectivos, comuns naquele país, há 37 milhões de homens a mais do que mulheres, havendo casos de mulheres que são forçadas a abortar cinco ou seis vezes até que fiquem grávidas de um macho;
- Consequentemente, os jovens adultos já têm dificuldades em encontrar mulheres para casar, o que provoca o tráfico de meninas de zonas pobres, que acabam como escravas sexuais;
- Em cada 20 minutos é violada uma mulher, mas apenas um em cada quatro dos culpados é condenado, devido à enorme corrupção da polícia;
- 44% das mulheres entrevistadas para um estudo revelaram já terem sido espancadas pelos maridos e 49% consideram isso normal;
- Sempre que as mulheres reclamam alguns direitos, os homens respondem com violência;
- Muitas mulheres contraem sida com os maridos, com quem muitas vezes foram forçadas a casar-se. Ainda por cima, os homens reagem à notícia rejeitando-as e fornicando com garotas, porque acreditam que desta forma se curarão da sida...
Perante este cenário, a pena de morte até nem parece uma coisa assim tão bárbara, pois não, Victor Hugo?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O valor das imagens


Vejo na TV dezenas de putos palestinianos a atirarem pedras aos militares israelitas, os quais por sua vez ripostam com tiros certeiros das suas moderníssimas e mortíferas armas, e não consigo evitar que me venham à cabeça dois pensamentos:
1. Há, muito mais do que cerca de quatro mil quilómetros, um mundo - quê?, uma galáxia, um universo! - a separar aqueles jovens dos nossos. 
Talvez eles sejam exagerados, pode ser que estejam errados, se calhar são manipulados e até fanatizados, mas certamente ninguém dirá que são comodistas, nem materialistas, nem egoístas e, muito menos, que são cobardes...
2. Num conflito que dura desde a criação do estado de Israel, há quase 65 anos, e cuja solução parece não existir, aquelas imagens ajudam-me - e de que maneira! - a decidir sobre qual das duas partes terá mais razão.

Boa malha, Pedro!


Cito de cor:
"Os portugueses são governados por meia dúzia de bastardos estrangeiros, que vêm para aqui dar entrevistas e ditar leis, como se fossem donos do país"
Pedro Abrunhosa, TVI 24, hoje

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Diz-me como tratas os teus velhos, dir-te-ei quem és...


Os noticiários voltaram nestes dias a chamar-nos a atenção para a vergonha nacional que são os lares de terceira idade sem condições - só este ano, a Segurança Social já fechou mais de setenta. Numa das reportagens, os utentes eram sujeitos a toda a espécie de patifarias, como ser molhados com uma mangueira no quintal, comer um pão a meias(!), ficar amontoados numa cave durante o dia e ter que subir à noite dois andares para ir para os quartos, sob pena de ter que ficar cá em baixo num sofá... Muitos queixaram-se com fome, frio, falta de higiene ou medicamentos trocados. Tudo condimentado com maus tratos q.b., nalguns casos, mesmo, agressões físicas.
Algumas pessoas, que já o terão tentado fazer, afirmam que a forma mais rápida de fechar um lar sem condições é denunciar a situação a uma televisão, pois quando se dirigiram ao tribunal ou à segurança social estas instituições nada fizeram.
Esta questão dos velhos está a transformar-se, mais do que num problema, numa verdadeira tragédia.
Senão, vejamos: a população está cada vez mais envelhecida, uma vez que as pessoas vivem mais tempo e a natalidade baixou muito.
O Estado, que tem a obrigação de garantir condições dignas de vida a todos os seus cidadãos - ou já não terá?... -, especialmente aos mais desprotegidos, pouco ou nada tem feito por eles. 
As pessoas não podem - e também não querem... - tomar conta dos seus velhos. Gostamos muito dos nossos pais - especialmente enquanto eles nos podem ajudar - mas, a partir do momento em que deixam de ser auto-suficientes, é certo e sabido que os pomos num lar.
A sociedade actual - consumista, materialista, imediatista, egoísta e outras palavras acabadas em ista - aprecia mais a imagem do que o conteúdo. Gosta da beleza, da juventude, da alegria... E não da velhice, da doença, da tristeza... Numa palavra, da morte, a que, inevitavelmente, todos estamos condenados desde o momento em que nascemos.
Por isso tendemos a afastar de nós os velhos, colocando-os em lares e indo lá de vez em quando vê-los, em visita de médico. Ou nem isso... E assim, com eles longe dos nossos olhos, a ideia do envelhecimento, da doença e da morte torna-se mais suportável. 
Tudo isto é triste. 
Especialmente porque se o envelhecimento, a doença e a morte são inevitáveis - a alternativa é morrer novo... -, o mesmo não se pode dizer dos autênticos depósitos de velhos em que, na maioria das vezes sem um mínimo de dignidade, colocamos os nossos velhos.
E a verdade é que há alternativas aos lares. Especialmente aos mais de 3 mil lares clandestinos que continuam a funcionar no nosso país. Por serem mais baratos, as pessoas procuram-nos, porque não têm dinheiro para mais, ou porque, tendo-o, não o querem gastar. Essas pessoas acabam por ser, de alguma forma, cúmplices desta miséria. Porque conhecem as más condições desses lares, ou porque não querem conhecer.
Algumas dessas alternativas são, por exemplo: apoio domiciliário, centros de dia e/ou de noite, edifícios em que as pessoas podem viver no seu próprio apartamento, fazendo as refeições em refeitórios... 
Seria, até, uma boa maneira de dar trabalho aos quase novecentos mil desempregados que - oficialmente - Portugal tem.
Mas é claro que, se não o fizemos em tempo de vagas gordas, dificilmente o faremos agora, afogados como estamos pela crise financeira e pelas teorias - e, principalmente, pelas práticas! - neoliberais.
Esperemos então por melhores dias.
Entretanto, os nossos velhotes que se aguentem.
Se isso lhes servir de consolo, também nós seremos velhos um dia...

PS - Um exemplo de uma alternativa "à portuguesa":
Pelo menos 1200 idosos morreram em Lisboa, no ano de 2011, sem assistência médica. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

1. A culpa é dos jornalistas


2. A culpa é sempre dos jornalistas.

3. Quando a culpa não é dos jornalistas, aplica-se o número um.

Oscar Wilde



Carlos Abreu Amorim diz que Passos Coelho foi mal interpretado ao sugerir a emigração como caminho para os professores desempregados




















Memória selectiva













Miguel Beleza não se recorda dos motivos do encontro entre Dias Loureiro e António Marta


Passos Coelho foi co-fundador da organização não-governamental Centro Português para a Cooperação, concebida para obter financiamentos destinados a projectos de cooperação que interessassem à empresa Tecnoforma. Entre os seus membros figuravam Marques Mendes, Ângelo Correia, Vasco Rato, Júlio Castro Caldas e outras destacadas figuras do PSD. Ângelo Correia e Marques Mendes não têm qualquer recordação da ONG, nem dos três projectos financiados pelo FSE. Passos era nessa altura deputado em regime de exclusividade e nunca declarou o cargo que ali exercia no seu registo de interesses.











Ufa!


O ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, afirmou hoje que o avião ligeiro que foi perseguido domingo por dois caças F-16 da Força Aérea e depois desapareceu do radar não constituiu ameaça sobre o território português.
Confesso que fico mais descansado, perante esta garantia do ministro.
Pensava que vinha aí uma invasão de espanhóis, alemães ou, sei lá, de extraterrestres.
De qualquer forma, ainda que mal pergunte, porque é que a Força Aérea mandou dois (!) F16 perseguir a avioneta - para a Espanha um chegou... -, como é que aqueles dois Ferraris da aviação deixaram fugir um "carro de bois" e para é que serviram as "rigorosas buscas" efectuadas pela GNR?
Acresce que este caso apenas veio a lume porque os espanhóis nos alertaram, o que me leva a fazer mais uma pergunta: alguém por cá faz a mínima ideia de quantos casos haverá em Portugal de introdução de droga a partir de Marrocos, por via marítima ou aérea, ou anda tudo a dormir?
E, já que se fala de drogas, para quando uma lei que, à semelhança do que já acontece na Dinamarca - ou na Madeira... -, considere prejudiciais e, consequentemente, ilegais, todas as drogas, até prova em contrário?
Quantos jovens ainda têm que morrer para essas drogas "legais" deixarem de ser vendidas nas chamadas smartshops?
Não me digam que neste caso, à semelhança do enriquecimento ilícito, também há risco de "inversão do ónus da prova".
São pequenas coisas como estas que fazem a diferença entre um país decente e um paraíso para os patifes...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Façam mas é o vosso trabalho

Centenas de pêjotas manifestaram-se ontem frente ao parlamento. 
Não, não consta que tivesse havido pedradas, nem carga policial.
Por falar nisso, já de lá tiraram a calçada portuguesa, ou estão à espera da próxima manifestação da "meia dúzia de energúmenos"?
Essa manifestação - a da PJ, não a dos energúmenos - mais não foi do que um protesto corporativo, igual a tantos outros que se têm feito em Portugal - curiosamente desde que o regime do corporativismo foi derrubado... - e que também contribuíram para aumentar as desigualdades e injustiças do nosso país.
Assim temos vivido, com os sucessivos governos a cederem sistematicamente perante as corporações. Quem é que nunca ouviu dizer a um funcionário público, em relação, por exemplo, ao facto de ter um horário de trabalho mais reduzido do que os privados: "Não sou eu que estou bem, tu é que estás mal"...
De direitos adquiridos em direitos adquiridos, chegámos a este ponto.
Sim, porque não foram só os políticos que "mamaram" nestes anos todos, principalmente desde que entrámos para a CEE e os milhões começaram a jorrar. O Sócrates nunca se teria "lá" aguentado seis anos se não tivesse alimentado grandes e importantes clientelas. O mesmo se pode dizer do Cavaco e do Guterres, para só citar os que (des)governaram durante mais tempo.
E também é verdade que muitas dessas clientelas são empresas, em que trabalha(va)m milhares de portugueses...
Mas voltando à vaca fria, se a PJ fizesse o seu trabalho com competência, a corrupção não teria atingido a escandalosa dimensão que atingiu e o Estado português não estaria, como está, completamente capturado por uma autêntica mafia de abutres e parasitas.
Sendo assim, a Judiciária não tem de que se queixar, porque a pobreza generalizada do país mais não é do que o escandaloso enriquecimento dos que o (se) têm governado...

É tão fácil falar de barriga cheia...

Portugal é um "brilhante exemplo" para a zona euro
"...Portugal está a levar a cabo um trabalho extraordinário", diz o ministro alemão. Ministro de quê? Das finanças, claro. Da solidariedade social, com palavreado deste, não poderia ser, de forma nenhuma. Senão, vejamos:
"Sabemos todos que Portugal está a cumprir com as suas obrigações".
Uma vez que o cumprimento dessas "obrigações" se tem traduzido num empobrecimento generalizado, na diminuição das funções sociais do Estado, num aumento do desemprego e das falências das empresas e, apesar de tudo isso, num aumento da dívida externa - tudo de forma brutal -, poderíamos então perguntar o que é que está a correr bem.
E a resposta é simples: estamos a conseguir pagar os juros da dívida.
E é apenas isso que interessa ao ministro dos bancos alemães. O resto é conversa da treta. Para ele, para os alemães e para os ricos da Europa, de uma forma geral e, infelizmente, para alguns portugueses, também.
Claro que nenhum deles sonha sequer o que é estar desempregado e não ter comida para pôr na mesa dos filhos. Mas isso, para eles, é... demagogia.
Realmente, há discussões que não vale a pena ter.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Frases feitas

Vivemos acima das nossas possibilidades
Esta frase, escrita no Google, retorna cerca de 80 000 resultados. 
Trata-se, sem dúvida, de uma das mais repetidas desde a má hora em que a troika tomou conta dos nossos destinos. 
É também um dos maiores embustes com que os "troikistas" nos têm tentado convencer a suportar, mais que o empobrecimento, este inexorável caminhar para a miséria.

Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade
Já dizia o Goebbels, ministro da propaganda do Hitler...

Vivemos acima das nossas possibilidades...
Vivemos acima das nossas possibilidades...
Vivemos acima das nossas possibilidades...

Para a mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem de trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade
Eu, que não gosto que me façam mais burro do que o que já sou, prefiro esta, do nosso poeta Aleixo.
Por mais que tente, não consigo convencer-me de que as coisas tenham que ser assim.
Aceitar o sofrimento como punição e redenção para poder um dia, sabe-se lá quando - depois da morte? -, ter uma vida melhor?


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Pedro e o lobo

Ponto 1 - O Passos Coelho é um aldrabão.
Ponto 2 - Claro que este facto, por si só, não tem uma conotação particularmente negativa, uma vez que o seu antecessor, por exemplo, até tinha por alcunha «Pinóquio». Há mesmo quem diga que para se chegar ao poder é preciso mentir com quantos dentes se tem na boca, porque o povo «gosta de ser enganado».
Ponto 3 - Porque é que ele é aldrabão? Os exemplos são mais que muitos, mas fiquemo-nos por um: antes de ser eleito garantiu que não ia aumentar os impostos e depois de «lá» chegar lançou sobre os portugueses a maior carga fiscal de que há memória.
Ponto 4 - Alguns comentadores, para o desculparem, afiançam que não tem alternativa senão aplicar a receita da troika, uma vez que estamos totalmente dependentes dos credores para podermos honrar os nossos compromissos (nomeadamente, os juros da dívida...) e, sob pena de cairmos no abismo (com tanta queda no abismo, não tarda estamos a chegar à... China, pois claro!), temos que abdicar «temporariamente» da nossa soberania. Ou, como na anedota, «uu bdc OO» (explicando, com sotaque africano: «os pequeno[s] [o]bedece[m] [a]ós grande[s]»).
Ponto 5 - Tanto nos martelam na cabeça que não temos alternativas a esta política («uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade» - Goebbels, ministro da propaganda de Hitler), que somos forçados a concluir que este é realmente o único caminho. Resignemo-nos então. Batamos com a cabeça na parede e penitenciemo-nos pelo tempo em que andámos a viver «acima das nossas possibilidades». Suspendamos a democracia por uns tempos e façamos uma espécie de união nacional, para ver se conseguimos tornar-nos o primeiro país do mundo a ficar livre de dívidas. Como diria o Salazar, pobrezinhos mas honrados. Ou, ainda à maneira do velho ditador, oremos para que o Pedro nos livre da terceira guerra mundial, já que não nos consegue livrar da fome.
Ponto 6 - Apesar de tudo, continuo na minha... ponto 1...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Jornalismo e negócio: um equilíbrio difícil...

Eu gostava de viver num mundo em que os media não pertencessem a grandes grupos económicos, nem ao Estado. 
Gostava que os media fossem exclusivamente projectos jornalísticos, e não de poder, que pertencessem aos próprios jornalistas, e/ou ao público.
Isso sim, possibilitaria a verdadeira e total independência dos jornalistas.
Ah!, e claro que gostava que esses media fossem financeiramente viáveis, de preferência sem publicidade, ou pelo menos sem dependerem de dois ou três grandes empresas e/ou do Estado.
Chamem-me lírico ou, como diria o Henrique Monteiro, chamem-me o que quiserem, mas, como também diria o bom gigante Torres, deixem-me sonhar...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Para quando um memorando para a justiça?


Depois do primeiro memorando de entendimento, vamos agora assinar um segundo para a cooperação (leia-se a importação de modelos) na área do ensino profissional.
Seguir-se-á, provavelmente, outro na área da justiça, a maior vergonha nacional e a verdadeira razão porque o país está neste estado, e o mais que se há-de ver.
Portugal sempre foi um país de emigração. Tradicionalmente, emigravam as pessoas mais pobres e menos qualificadas, as pobres gentes que viviam miseravelmente de uma agricultura de subsistência.
Mas há 50 anos começaram também a emigrar muitos técnicos qualificados, como mecânicos, serralheiros, soldadores, electricistas, pedreiros, pintores, etc.
Hoje em dia, há milhares de licenciados emigrados e outros milhares a prepararem-se para o fazerem.
Apesar disso, o Crato acha que o problema do nosso desemprego é a falta de qualificação dos portugueses.
Diziam os romanos:
"Nos confins da Ibéria, vive um povo que não se governa nem se deixa governar".
Agora, apenas a primeira premissa se continua a verificar. Em consequência disso estamos, mais uma vez, a atravessar um período de crise. Mas quanto à segunda, e pela primeira vez na nossa história, parece que as coisas estão a mudar. Estamos finalmente a deixar-nos governar.
Até quando?...

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Antanáclase...

«Nos Estados Unidos, dez estados declararam o estado de emergência.»  

Carlos Daniel, noticiário da RTP

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mais 7,5 mil milhões para os bancos. É de mais!


Numa crise como esta, com os portugueses a sofrerem a maior carga de impostos da sua história e com o governo, apesar disso, a falhar clamorosamente todas as metas a que se propôs em matéria de redução do défice e da despesa pública, como é que este governo ainda tem a pouca vergonha de pôr de lado 7,5 mil milhões de euros para uma "eventual necessidade de recapitalização dos bancos"?
Não percebo nada de finanças nem de economia, mas não me digam que isto tem alguma coisa que ver com economia de mercado.
Os bancos, que têm uma enormíssima responsabilidade na situação de dívida excessiva que atingimos, tanto pública como privada; que pagam menos impostos do que as outras empresas; que são contra toda e qualquer regulação; que dão lucros de milhões; apesar de tudo, precisam que o governo nos esmifre mais 7,5 mil milhões para uma "eventualidade". 
Entretanto, continuam a investir nas dívidas dos países, portuguesa incluída, porque é mais lucrativo, em vez de financiarem a economia real, que é a verdadeira razão da sua existência.
E o Vítor "Rapa-tudo" Gaspar ainda goza connosco, quando diz que há "um enorme desvio entre o que os portugueses [o melhor povo do mundo] acham que devem ter como funções do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar".
Como se alguma parte deste "enorme aumento de impostos" servisse para outra coisa que não para pagar, não a dívida, mas sim os juros da dívida.
É de mais!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Vem aí o assalto final...

O presidente do BPI - que este ano já deu mais de 100 milhões de lucro - não quer que seja posta em causa a constitucionalidade do Orçamento Geral do Estado, porque "não podemos estar sujeitos à ditadura do Tribunal Constitucional". 
Alguns empresários têm dito repetidamente, a propósito das greves que vão ocorrendo, nomeadamente nos transportes e nos portos, que, "sem querer pôr em causa o direito que as pessoas têm de as fazer", é necessário travá-las, porque "dão cabo do país".
Diversos banqueiros, empresários, políticos e comentadores têm alertado para a necessidade de alterar a Constituição, pois esta é "um travão" às "medidas de austeridade necessárias" para recolocar no "rumo certo" este país que "tem vivido acima das suas possibilidades".
O direito à greve, o Tribunal Constitucional e a própria Constituição surgem assim como as novas "forças de bloqueio".
O estado social, os direitos adquiridos, o direito à educação, à reforma, à protecção no desemprego e na doença, tudo isto e muito mais está em causa.
O Gasparzinho ataca as reformas, o subsídio de desemprego, as baixas e o RSI.
O próprio direito à alimentação está em causa, como se comprova pelo alarmante aumento de pessoas que têm que recorrer à sopa dos pobres.
Para grande alegria do primeiro-ministro, dos bancos e até, pasme-se, da Igreja, são aos milhares os portugueses que têm que sair do país para poderem trabalhar.
Aqui e ali, algumas pessoas vão ficando sem telefone, sem internet, sem televisão ou simplesmente sem electricidade, por falta de pagamento ou por causa dos repetidos furtos de cobre. Outras vezes, são as tampas dos esgotos e das sarjetas que são levadas, deixando as estradas com buracos extremamente perigosos para quem nelas circula. Assaltos a multibancos, são quase diários.
Ferreira Leite chegou a defender a suspensão da democracia como única forma de se conseguir equilibrar as contas. Na última vez que isso aconteceu, a "suspensão" durou, não seis meses, mas sim quarenta e oito longos anos.
Entretanto, o ex-secretário de Estado das obras públicas Paulo Campos, talvez amuado por ainda não ter conseguido um tachão numa empresa das PPP, queixou-se publicamente de ter que viver à custa dos papás, porque 3500 euros por mês não lhe chegam.
O próprio presidente da República também diz que dez mil euros por mês são insuficientes para as suas despesas, apesar de ter carro, cama, mesa e roupa lavada. As más línguas (credo!) dizem que gasta mais do que o rei "caça elefantes" de Espanha.
Que mais nos irá acontecer?...

Escrevam por extenso, caramba!


«Mil trezentos e cinquenta e sete mil milhões de euros», acabo de ouvir no noticiário da RTP.
O mesmo locutor dissera momentos antes, referindo-se ao provável reforço da ajuda europeia à Grécia, «dezoito milhões de euros» em vez de «dezoito mil milhões de euros». E não se trata de um jornalista «maçarico», mas pelo contrário de um profissional experiente e de créditos firmados.
Estou farto de ouvir na televisão e na rádio e de ler nos jornais disparates deste género.
Estas calinadas, longe de se poderem apenas considerar ridículas ou risíveis, são graves porque induzem o público em erro.
A explicação para a recorrência destes erros grosseiros na comunicação social é, obviamente, a incompetência de quem não sabe ler números.
Mas, como é difícil ensinar a profissionais (supostamente) qualificados coisas que eles deveriam saber desde a escola primária, talvez fosse mais simples escrever os números por extenso.
Digo eu...

sábado, 29 de setembro de 2012

A última bacorada do pavão Borges


O Borges/Sachs mandou mais uma bacorada. Desta vez, chamou COMPLETAMENTE IGNORANTES – aos berros e a deitar espuma pela boca – aos empresários que discordaram da TSU. Quanto à medida em si – transferência de mais de dois mil milhões de euros directamente dos bolsos dos trabalhadores para os cofres as empresas –, considerou-a «extremamente inteligente». E concluiu: «esses empresários não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas».
Como conselheiro-mor do Passos «deserto-de-ideias-e-conhecido-aldrabão» Coelho, esta medida é provavelmente dele. Portanto, relativamente à sua modéstia, estamos conversados.
Mas o problema não é esta cigarra pensar o que pensa. É, sim, o nosso primeiro ter-lhe oferecido este tachão, «consultor para as privatizações», que lhe permite ganhar muito mais do que se fosse ministro, sem ter que se sujeitar ao escrutínio popular. Caso contrário, ninguém lhe ligava. Assim, não só nos vai esbulhando dia após dia, com as privatizações a preço de saldo que faz e com os tenebrosos conselhos que dá ao primeiro-ministro, como ainda por cima nos insulta de cada vez que abre o bico. Porque é sabido que, cada vez que este pavão fala, ou entra mosca ou sai asneira.
Mas afinal, quem é esta aventesma? Senhor de um vasto currículo (pois 'tá claro!), andou muitos anos lá por fora, mas, talvez por os seus muitos patrões lhe terem feito como o FMI, que correu com ele por incompetência, ou simplesmente para também ele poder ter uma reforma dourada à nossa custa, infelizmente agora somos nós que temos que o gramar.
Para quem questiona como é que, com tantos economistas conceituados, o nosso país se encontra nesta miséria, a resposta só pode ser que foram precisamente esses «ilustres» os principais responsáveis pelo estado a que chegámos. Gente como Borges, Cavaco, Constâncio, Catroga, Braga de Macedo, João Salgueiro, Nogueira «Pira-te» Leite, Mexia, Bagão Félix, Daniel Bessa, Oliveira «BPN» Costa, Campos Cunha, Manuela Ferreira Leite, Miguel Beleza, Horta Costa, Augusto Mateus, Patinha Antão, Cadilhe, Pina Moura, Frasquilho, Tavares Moreira, Passos Coelho, o Álvaro e o Gasparzinho, sem esquecer Silva Lopes e… Medina Carreira, já passou pelo governo. Ricardo Salgado é banqueiro... E outros, como Vítor Bento, César das Neves ou João Duque, são comentadores habituais na comunicação social e/ou conselheiros dos nossos governantes. Sem esquecer, por exemplo, Francisco Louçã, também ele um ilustre professor de economia. Toda esta gente foi ou continua a ser, obviamente uns mais que outros, responsável pela situação em que nos encontramos.
E depois, para citar o ilustre professor Marcelo, quem se lixa é o... pois.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Porque será que os políticos não têm familiares desempregados?...


Na Inglaterra escolhe-se o governador do banco central por concurso.
Cá, nem no Banco de Portugal, nem em nenhum dos lugares de topo do sector público.
Aliás, mesmo nos lugares sem ser de topo do sector público, para os quais a lei obriga a efectuar concurso público, todos sabemos que entra quem tem cunhas. Ou seja, os concursos são ALDRABADOS.
Quanto ao sector privado, também a malta das cunhas tem prioridade no acesso, mas aí o problema é do patrão.
Numa altura em que o desemprego no nosso país atinge valores tão elevados, não conheço nenhum familiar de político que esteja nesta difícil situação.
E você?...

Demagogias...


Há crianças em risco de vida porque os pais não têm dinheiro para os vacinar contra a meningite.
Esta vacina pode custar 300 euros:


  
Não sei quanto custaria ao Estado incluir a vacina da meningite no Plano Nacional de Vacinação, como não sei quanto custa oferecer a vacina da gripe a todos os velhos, incluindo aqueles que a podem perfeitamente pagar.
Mas desconfio que se os governantes e os deputados baixassem os seus ordenados em trinta por cento, como fez Hollande na França, era capaz de dar, pelo menos, para pagar essa vacina às famílias mais pobres.
A isto se chamaria estado social, a isto se chamaria solidariedade.
Reparem que nem sequer falei em cortar nos assessores, ou nas mordomias, mas apenas em aplicar às cigarras que nos (se!) governam um bocadinho da austeridade a que nos sujeitam sem fim (nem resultados) à vista...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Política (rasca) à portuguesa


Sexta, 7 – Demonstrando uma minúscula imaginação e um – isso sim – enorme desprezo por quem o pôs “lá”, o governo decide que os trabalhadores é que devem financiar as empresas. Mata assim dois coelhos – infelizmente, nenhum é o “tal”… – com uma cajadada:
  1. Diminui a TSU, para ajudar as empresas, que precisam urgentemente de financiamento e não o conseguem encontrar junto de quem supostamente o deveria prestar – os bancos;
  2. Aumenta os impostos sobre os trabalhadores, com o objectivo, há muito confessado pelo todo-poderoso – e muito bem pago – consultor Borges/Sachs, de baixar os seus rendimentos, para que o consumo continue a diminuir e, desta forma, a economia “ajuste” mais rapidamente.
Sábado, 15 – O roubo é de tal forma escandaloso que os portugueses saem finalmente da sua letargia e vão para a rua protestar em massa.
Domingo, 16 – Oportunista, como sempre, Portas aproveita para dar uma facada nas costas do primeiro-ministro. Querendo o melhor de dois mundos, manifesta-se solidário com o povo espoliado, sem no entanto largar o “tacho”.
Demonstrando inequivocamente a massa de que é feito, Passos Coelho manifesta em privado a sua vontade de desistir e abandonar o barco. Desesperado, o Relvas tenta demovê-lo ("ainda não tive tempo para roubar reestruturar o que queria, espera mais uns meses..."). Mais uma vez mostrando ser um homem de convicções profundas, Passos volta a mudar de intenção.
O PSD convoca então duas reuniões: uma para segunda, 17, e outra para quarta, 19. O país espera, ansioso. Será o fim da coligação?
A montanha pariu um rato. O resultado das duas reuniões é a solicitação ao CDS de uma... reunião.
Quinta, 20 – O CDS aceita imediatamente a reunião com o PSD.
(Entretanto, meio assustado com a reacção maciça e – para eles – inesperada do povo português, o ministro das finanças alemão recebe o seu aluno dilecto, o Gasparzinho, e tenta convencer-nos de que o nosso descredibilizado ministro das finanças continua a ser o homem certo no lugar certo...)
Sexta, 21 – O “prusidente da junta” reúne o Conselho de Estado, para tentar compreender o que se passa, apesar de a maioria dos conselheiros já se ter manifestado publicamente. A verdade é que, seja por ter uma compreensão “ao retardador”, por considerar esta crise menos grave do que o célebre estatuto político-administrativo dos Açores, ou por concordar com esta medida do governo, Cavaco tem-se mantido de boca fechada.
Do mal, o menos: assim não entra mosca, nem sai merda asneira… 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Merkel: é fácil falar de barriga cheia


«Merkel faz finca-pé: austeridade é o único caminho»

Se eu chegar à conclusão de que o meu cão está gordo, facilmente resolvo esse problema. Forço-o a uma dieta! Se for preciso, até sou capaz de estar três dias sem o alimentar, que não me custa nada.
Agora, se eu chegar à conclusão de que estou gordo, já é mais difícil.
Assim está a gorda Merkel.
Se recuarmos umas décadas, até ao tempo do (provavelmente) ídolo dela Hitler, e à tentativa dele de eliminar as pessoas fracas e doentes e os judeus, a ideia original talvez tivesse - não tinha, mas admitamos que sim... - algum sentido: relativamente aos primeiros, libertar a sociedade de pessoas inúteis e que só consumiam tempo e dinheiro; quanto aos judeus, lutar contra o seu domínio da economia alemã e europeia.
O problema é que há coisas que não se fazem, porque são cruéis e desumanas. E é isso que a Merkel está a fazer com Portugal, salvas as devidas distâncias. Aqui, os gordos (leia-se os políticos e os ricos) safam-se sem grandes problemas. O pior são os milhões de pobres, velhos e doentes que cada vez estão mais na miséria, porque já antes da crise estavam bastante mal...
À gorda Merkel, uma dietazinha - digamos, a perda de uns cinquenta quilitos... - não só não fazia mal nenhum, como até fazia bem.
Agora, para quem antes da dieta já pesa menos de cinquenta quilos é que é uma gaita...

sábado, 15 de setembro de 2012

Objectivo da troika: empobrecer o país

Ao contrário do que muita gente diz, a troika e o FMI - que tem feito coisas destas por todo o mundo - normalmente atingem os seus objectivos. 
A questão é que esses objectivos - obrigar os países devedores a pagarem as suas dívidas... com juros bem altos - passam obrigatoriamente por baixar o nível de vida das pessoas.
E porque é que eles querem que as pessoas ganhem menos? Simples, porque assim reduz-se o consumo e sobra mais dinheiro para se pagar aos credores. É mais fácil e, principalmente, mais rápido do que as alternativas, que são duas: prolongar a dívida no tempo, diminuindo assim as prestações, ou aumentar a produção do país, de forma que este consiga pagar mais depressa.
Na perspectiva da troika, esta redução dos salários impõe-se sobretudo na Função Pública, uma vez que são as despesas do Estado que se querem reduzir.
Mas relativamente ao sector privado, claro, também dá jeito. Como a qualidade média dos gestores das nossas empresas deixa muito a desejar, a única forma de aumentar a competitividade destas é reduzir os custos de produção. Ora, como os impostos e a energia são sagrados - ou melhor, podem ser mexidos... desde que para cima -, resta actuar sobre o lado mais fraco, os desgraçados dos trabalhadores.
Para a troika, portanto, tudo está no bom caminho.
Resta saber se, para o povo português, estas manifestações de hoje foram um acto isolado ou apenas o início do acordar de um longo torpor.
Porque uma coisa é certa: se o povo continuar a ser mole, o governo, guarda avançada da troika e dos grandes poderes económicos, vai continuar a carregar...
Se a era do consumismo, do oásis, da democracia de sucesso medida pelo número de electrodomésticos de cada um, do triunfo do individualismo medido pelo tamanho da casa, do modelo do carro, do exotismo do sítio em que cada um passou as suas férias, tudo pago com recurso a créditos ilimitados impingidos pelos bancos, se tudo isso acabou, não resta às pessoas outra possibilidade que não seja deixarem de se comportar como indivíduos, cada qual para si, e unirem-se em defesa das poucas conquistas que ainda não perderam e da recuperação das muitas que já lá vão.
Foi isso que hoje se viu nas muitas manifestações que ocorreram pelo país fora, com gente de todos os sectores da nossa sociedade. Gente do público e do privado, gente activa, desempregada e reformada, gente com salários em dia e em atraso, gente com salários altos e baixos, gente com licenciaturas e sem elas, gente de esquerda e de direita...
A nossa paciência chegou ao fim. A credibilidade deste governo acabou de vez. Agora, outras manifestações terão que acontecer. Provavelmente, terão também que ser convocadas algumas greves.
As principais conquistas da humanidade não se fizeram sem luta. O próprio 1.º de Maio, este ano estranhamente comemorado, entre nós, num misto de frebre consumista e de corrida desesperada aos alimentos, teve origem - é bom que não o esqueçamos - numa luta dos trabalhadores por melhores condições laborais. Essa luta foi duramente reprimida, por parte da polícia e dos patrões, e teve como consequência um elevado número de vítimas.
O sacrifício dessas vítimas não foi, felizmente, em vão.
Esperemos que desta vez não seja necessário ir tão longe.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Afinal, de quem é a culpa?


O Sócrates tem culpa, não só pelo que mamou mas, principalmente, pelo que deu a mamar. Isto é uma evidência, mas às vezes parece que as pessoas se esquecem. Por muito mamão que ele fosse, sozinho não conseguia fazer o rombo que fez nas nossas contas.
A própria União Europeia também tem culpa, porque mandou gastar, para evitar que a economia entrasse em recessão, na sequência (ainda se lembram?) da crise provocada pelos bancos e outros especuladores parasitas e mafiosos do mundo financeiro, de que o sub prime americano foi o detonador.
Mas voltando aos culpados cá do burgo, a responsabilidade maior do Sócrates foi não ter conseguido enfrentar os lóbis poderosíssimos que efectivamente têm mandado no país e que, de tão vorazes que são, acabaram por secar a teta do Estado. 
Actualmente, a dificuldade do Passos em conter a despesa parece que também reside sobretudo aí. De acordo com o preto que chefia a troika, 40 por cento do nosso orçamento vão para a protecção social, 20 por cento são salários e os restantes 40 por cento são custos de funcionamento e despesas de capital.
Sendo assim, e ao contrário do que às vezes se diz por aí, quando se afirma que a maior parte da despesa do Estado é com salários, há aqui margem de manobra, nomeadamente no terceiro item, que os dois primeiros já foram abundantemente "sangrados".
Ora, se fizermos um esforço de memória, verificaremos que as promessas do PSD antes de "lá" chegar eram essencialmente de cortes nas gorduras (fundações, institutos, PPP, rendas excessivas...).
Mas o tempo passa e, quanto àquilo que interessa, enfrentar os interesses dos poderosos, nada.
Sendo assim, também se poderão considerar culpados estes que lá estão agora, certo?
Até porque é bem possível que, quando também eles forem corridos, ainda acabem por se encontrar com o Sócrates em Paris... Quanto mais não seja, para ver se estudam alguma coisa a sério na p*t* da vida deles...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sou a favor das touradas...


… Na mesma medida em que sou a favor do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou da adopção de crianças por casais homossexuais: por TOLERÂNCIA!
Para mim, cada um que faça o que quiser, desde que não prejudique os outros.
Assim como os abortos sempre se fizeram, apesar da anterior lei prever a punição das mulheres que os fizessem – os perigos é que eram muito maiores, assim como os negócios… –, também a homossexualidade sempre existiu (talvez apenas mais escondida). Quanto aos direitos das crianças, o que não falta são crianças maltratadas pelos seus próprios progenitores.
Quanto aos defensores dos animais, se quiserem têm muito que fazer. Desde os animais que vivem em jaulas nos zoos, passando pelos que são amestrados, muitas vezes com extrema violência, para as criancinhas (e os adultos) apreciarem as suas habilidades, pelas lojas que vendem animais de estimação para ter em casa, pelos energúmenos que compram um cachorrinho porque lhe acham muita graça, mas que depois, quando ele começa a mijar, a cagar e a destruir tudo o que apanha à frente, o abandonam em qualquer lado, até aos animais que são criados para alimentação humana, em aviários e pecuárias sem um mínimo de espaço, nem condições.
E não me venham com a treta de que precisamos de comer carne ou peixe, porque isso é mentira. Há muita gente que não os come e consegue viver de perfeita saúde. Isso, sim, é um sinal claro da bestialidade humana, criar animais – em espaços ínfimos, quantas vezes com alimentação inadequada e cheios de medicamentos – para nossa alimentação.
Quanto à actividade tauromáquica – e não tauromática, como muitos ignorantes, alguns jornalistas, dizem –, para quem não sabe, é uma actividade que dá emprego a alguns milhares de portugueses, desde os que tratam dos touros e dos cavalos até aos que confeccionam as roupas dos toureiros e cuidam das praças... Movimenta mais de vinte milhões de euros por ano, em Portugal.
Os touros de lide são uma espécie que se extinguirá inevitavelmente no dia em que as touradas acabarem, pois não têm valor comercial. A não ser, claro, que os coloquem nos tais zoos, para deleite das pessoas “civilizadas”.
Os touros (apenas são toureados os machos) são lidados com quatro ou cinco anos e, de facto, passam por uns 10 ou 15 minutos de algum sofrimento, ainda que a sua pele seja bastante grossa (é dela que se fazem os sapatos). Se falo neste pormenor da pele, não é para desvalorizar as farpas que lhes espetam, que também me parecem um tanto ou quanto bárbaras, mas apenas para referir que são absurdas e demagógicas as imagens (montagens) que mostram pessoas aparentemente espetadas e cheias de sangue, para chocar e demonstrar a crueldade daqueles actos. A juntar a esse quarto de hora, há que somar as horas seguintes, até o touro ser morto. Os quatro ou cinco anos que estes animais vivem são gozados em total liberdade, em campos vastos e com alimentação garantida. Em condições, portanto, que a esmagadora maioria dos animais que as pessoas adoram comer nem sonham, se é que tal é possível a animais irracionais…
Os seres humanos são os animais mais cruéis, destrutivos e gananciosos que a Natureza criou. Nenhum outro animal, para além do Homem, passa fome nas condições naturais de vida. A fome é possível, sim, em caso de doença, ferimento grave ou catástrofe natural, mas nunca, como no caso dos humanos, acontece haver alguns (muitos!) a passarem fome e outros a morrerem com excesso de fartura, passe o pleonasmo.
Enquanto os homens matarem outros homens por causa do poder e do dinheiro, enquanto os homens criarem animais em espaços minúsculos para depois os comerem, enquanto os homens exibirem animais em jaulas para seu prazer pessoal, hei-de sempre considerar que a questão das touradas é secundária.
A tauromaquia é uma questão cultural, que obviamente os nórdicos têm mais dificuldade em compreender, porque não têm essa tradição e também porque muitos se consideram superiores a nós, “os do sul”. Com o avanço da civilização humana, mais tarde ou mais cedo acredito que tenderá a acabar.
O que não merece a pena, na minha opinião, é as pessoas porem-se umas contra as outras por causa disto, quando há tanta coisa por fazer no capítulo da dignidade da vida das próprias pessoas.
A começar por esta crise, que foi, como todas as outras, provocada pela cegueira e pela ganância da gente do poder (político e económico-financeiro) e que, como todas as outras, terá que ser a arraia-miúda a pagar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Prevenção? Isso é alguma coisa que se coma?


Este ano «só» morreram 29 na «Operação Hermes», montada pela GNR para controlar e fiscalizar o trânsito nas alturas mais complicadas de ida e regresso de férias dos portugueses.
No ano passado, pela primeira vez em 50 anos, morreram menos de 700 pessoas nas nossas estradas. Foram «só» 690!
Espectáculo!
Este ano ainda «só» morreram dois ou três por causa dos incêndios!
Categoria!
Segundo o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Abano Ribeiro, «desde o princípio do ano registaram-se 20 mortes em acidentes laborais na construção, mais quatro do que em período homólogo do ano passado».
Nice!
Apesar de a construção ter levado um tombo de todo o tamanho, têm morrido mais trabalhadores, «o que se explica pelo desinvestimento por parte dos empresários na segurança».
Sim senhores!
São mais de duzentos mil acidentes de trabalho por ano, fora os que não são registados.
São milhões de horas de trabalho perdidas.
Milhões de euros de prejuízo para as empresas.
Milhões de euros de custos para as seguradoras.
Milhões de euros de custos para o Estado, com as despesas médicas (tratamentos e medicação) e com as baixas.
Em 2010 e 2011, apesar da diminuição do número de horas trabalhadas, inverteu-se a tendência de diminuição de mortes por acidentes de trabalho da última década.
Porquê?
Por causa do desinvestimento na segurança.
Os empresários acham que a formação e a segurança são custos e não investimentos.
Depois, podem ter sorte ou não. É como o euromilhões, só que ao contrário.
De vez em quando, lá acontecem uns acidentezitos, uns estropiamentos, umas mortes…
Outras vezes, há uns incêndios.
Aqui é mais grave, porque os prejuízos financeiros são mais avultados…
Com os incêndios florestais é a mesma coisa.
Há mais de um milhão de desempregados, mas não se investe um tusto na limpeza e no ordenamento florestal.
Depois, haver ou não grandes fogos depende exclusivamente de fazer mais ou menos calor.
Os milhões de euros de prejuízos, mais o que se gasta no combate aos incêndios, davam e sobravam para pagar a quem fizesse a limpeza e vigiasse as matas, mas nenhum governo considera prioritárias essas medidas.
Porquê?
Porque, tal como os empresários, também os políticos as consideram um custo e não um investimento.
Tal como no início das descobertas, os portugueses continuam a navegar à vista. 
Entretanto, passaram mais de quinhentos anos...